(Se estiver meio estressado, leia! Esse texto é para destresse!)
Estava eu à beira mar ao cair da tarde. Meus pés estavam entre a areia da borda e da água das ondas que vinham espraiar-se na areia. Veio uma pequena onda meio sorrateira que passou bem junto aos meus pés. Tocou-me suavemente a sola do pé que ela encobriu e retirou de abaixo dele a areia fina. Foram milhões de grãozinho de areia que se moveram, não saberia contar. Á água voltou para a outra onda que veio em sua direção não sei se a buscar com medo que se perdesse entre a areia ou estava disputando quem chegava primeiro. Eu fiquei confuso sem saber para onde tinha ido a que banhou meus pés. Olhei para o mar e ele bramia em ondas de todos os tamanhos e formatos. Absorveu aquela que tinha vindo até mim. Á agua que banhou meus pés ficou escondida na imensidão do oceano. Não a vi mais nem sei se um dia a verei, pois, como distinguir a que banhou meus pés daquela outra que banhou os pés das pessoas que comigo estavam. Fiquei diante de um mistério tão simples e tão complexo. Simples porque eu vi a água que banhou meus pés, ela estava ali. Senti sua temperatura que era diferente a do meu corpo. Ela tocou-me trazendo um frescor e uma sensação agradável que só conhece quem põe os pés levemente na margem ao alcance das ondas que se aproximam com seu barulho típico e que vai se amansando à medida em que se aproxima da areia enxuta. Aquela água que tocou mês pés veio acompanhada de uma espuma que se desfez ao tocar a areia seca, as pequenas bolhas explodiram sem que eu pudesse ouvir o seu barulho. Aquela água chegou bem transparente e ao cavar a areia debaixo dos meus pés ficou turva pela multidão de grãos de areia que se moveram. Naquela hora o sol já se punha, mas ainda deixava seu rastro no céu onde parecia ter incendiado as nuvens que ficaram vermelhas parecendo lavras de vulcão incandescente. O contraste era maravilhoso, nuvens brancas e como que por trás delas o fogo do sol vermelho se despedindo pouco a pouco do dia que chegava ao fim. As nuvens que se movimentavam devagar pareciam abanar como quem se despede partindo para alguma viagem. Elas diziam até amanhã! Pois sem o sol elas também iam ficar invisíveis ou iriam dormir para noutro dia talvez bem longe dali aparecer de novo como que incendiadas pelo fogo novo do sol quando este trouxesse de novo o amanhecer do dia seguinte.
Tanto as nuvens como a água que banhou meus pés me deixaram numa grande nostalgia, porque naquele momento sentia uma sensação de doçura da natureza que diariamente nos presenteia com essas coisas simples, misteriosas que se vê e depois se despede e fica-se com saudade. Onde foi parar a água que banhou meus pés naquela tarde? Será que ela virou nuvem e choveu naquela chuvinha que apareceu no dia seguinte quando me preparava para ir à praia novamente? Quem pode decifrar esse enigma tão ao alcance dos olhos, porém difícil de saber.
Assim é a natureza, ela nos revela coisas sensíveis que nos causam sensações agradáveis, mas ela também esconde as coisas que viram mistério e nos deixam não só cheios de nostalgia, mas também cheios de perguntas.
Aquela água que banhou meus pés pertence à imensidão das águas do mar que faz ondas gigantes ameaçadoras e outras tão tênues e inofensivas. Nuvens brancas e que dão tchau de despedida e aquelas grossas e escuras que geram tormentas, que chovem forte e às vezes destroem e aquelas outras que caem em garoas finas que molham e fertilizam o solo em qualquer amanhecer ou tardinha com o sol escondido atrás de si.
Dois contrates. Água do mar da ondinha e da onda grande. Água da nuvem branca pacifica e água da nuvem carregada e ameaçadora.
Por um lado, a suavidade da vida por outro a força poderosa da natureza. Parece ser assim que os mistérios se revelam e se escondem. Na imensidão do oceano das muitas águas se mostra o rosto do seu Criador com suavidade quando precisa tocar o coração de alguém ou com a força que se impõe com domínio absoluto. Ninguém pode dominar o mar nem o subtrair do seu lugar, ninguém vence o mar! Das nuvens poderosas que andam livres pelos céus, ninguém pode desviar seu curso e nem dar ordens para que baixem ou subam mais. Elas voam para onde o vento as levam ou por onde sua força as impulsiona. Ninguém vence as nuvens fortes.
Assim é a vida. Momentos de leveza e mansidão, momentos de força e energia que nos levam no seu vaivém para diferentes direções. Hora irreverentes achando que dominamos o mundo e o conhecemos, hora submissos e abatidos diante de algo que é mais forte e se impõe mesmo a contragosto. Ninguém é dono da vida, só seu criador que nos surpreende com momentos de paz e bem-estar e outros de mistérios e grandezas que desconhecemos.
Ainda continuo me perguntando onde foi parar a água que banhou meus pés à beira mar naquela tarde de sol poente? Onde estará agora? Virou nuvem ou está escondida no mistério das águas oceânicas. Até algum dia se Deus quiser! Tchau.
Autor:
P. Deolino Pedro Baldissera, sds