“Eu sou minha liberdade” é uma afirmação complexa e difícil de definir. Poderíamos pensar que significa que eu posso fazer o que quiser e do jeito que quiser, quando quiser! Mas, isso seria deixar-se levar pelos apelos que nascem do instinto do modo como se apresentam em nível consciente sem considerar para onde eles nos levam. Isso não seria liberdade porque está se deixando dominar pelas forças pulsionais. Essa concepção não se enquadra dentro do que quero dizer com “eu sou a minha liberdade”. A verdadeira liberdade vai além dos impulsos instintivos, implica em encontrar sentido que venha ao encontro daquilo que em última análise se espera como respostas às questões existenciais. A liberdade humana tem, não só um caráter psicológico de capacidade para escolhas conscientes e pessoais, ela possui essencialmente um caráter mais profundo, que é ontológico, e, ao mesmo tempo, teocêntrico. O ser humano é livre, sobretudo, porque, em sua liberdade é chamado a tomar posição diante de Deus. A liberdade não é apenas uma propriedade das nossas ações – um adjetivo – é o ser pleno da pessoa; a espécie humana não é simplesmente dotada de liberdade como outras espécies o são de barbatanas ou de asas. (GS n. 31), Segundo C. Ranner, “a liberdade não é a possiblidade de ser sempre capaz de fazer alguma outra coisa, a possibilidade de revisão infinita, mas a capacidade de fazer algo unicamente final, algo que é válido de modo final, precisamente poque é feito em liberdade. Liberdade é a capacidade para o eterno. Como afirma Rulla “o homem é livre de escolher entre as partes finitas porque tem necessidade do Infinito; paradoxalmente, só porque existe a necessidade do Todo, não está ligado a nenhuma das partes, é livre de escolher entre elas”. (Rulla, AVC, P. 285).

Dizer, sou minha liberdade, tem a ver com o sentido último que se dá à vida. A natureza humana parece exigir um sentido pleno, que responda às questões fundamentais que vão além do “aqui e agora”. Nossa mente e coração estão sempre em busca de algo mais profundo que aquiete as angústias existenciais. Quando se participa de um velório, estamos diante de um esquife, imóvel. Ali esteve a vida, não está mais, e aí fica a pergunta para onde ela foi? É possível reencontrá-la?  Quer queiramos ou não, crentes ou não crentes, fica a interrogação. Diante disso qual sentido tem a liberdade? Pelo lado cristão ela é verdadeira e cheia de sentido, na medida em que somos capazes de vivê-la nessa perspectiva transcendente. Seremos mais livres na medida que correspondemos àquilo para que fomos chamados a existir. São Paulo, na carta aos Gálatas 5,13-14 diz: “vós fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para a carne, mas, pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros. Pois toda a lei está expressa num só preceito: amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Podemos dizer que a verdadeira liberdade acontece quando regida pelo amor. É no amor que podemos ser realmente livres, porque ele nos põe para fora de nós mesmos e nos liberta do egoísmo que estrangula a vida aprisionando-a no “si mesmo”. Não há liberdade na vida egoísta. Daí que ser livre é antes de tudo ser capaz de pôr-se na dimensão do amor.  E o amor pleno só acontece se provier e for motivado pelo amor de Deus que é fonte e origem do único amor absoluto.

Sou minha liberdade, significa então, ser capaz de amar com o amor com que Deus nos amou, amando como Ele. Ninguém é mais livre do que aquele que é capaz de dar sua vida pela causa do amor.

Diacono João Gualberto SDS

  Autor:

P. Deolino Pedro Baldissera, sds