Nossa sensibilidade nos põe em contato com o mundo que nos cerca e nós o captamos pelos nossos cinco sentidos e estabelecemos nossas relações com ele. Dependendo de como nossa sensibilidade é “educada” por nós, ela manifestará quem nós somos. Nós, por natureza, nascemos com disposições que nos permitem estabelecer relações e vínculos com tudo o que está a nossa volta. Vivenciamos nossas emoções, sentimentos, pensamentos, fantasias e tudo que ocorre em nosso psíquico, no convívio social. Nossos estados de espírito são “gravados” em nossas cadeias neurais e ali ficam como lembranças de nosso passado, que podem ser evocadas no presente e no futuro!

Nelas (cadeias neurais) vai se moldando o nosso jeito de lidar com a realidade e dando um norte à vida vivida. Se priorizamos a harmonia e o lado positivo, então, nossa tendência será de responder aos estímulos que recebermos positivamente. Se, pelo contrário, nos fixamos mais no conflito, no lado negativo das coisas, tenderemos a ter expectativa negativa e nosso cérebro interpretará os estímulos nesse viés. A vida se tornará pesada e o distanciamento nas relações será consequência.

A neurociência nos diz que nosso cérebro ao receber os estímulos do ambiente, reage e o associa ao que já está acostumado e fortalece o já conhecido, como também pode formar novas cadeias. Em outras palavras, em nosso dia a dia, no contato com a realidade, esta emite sinais que são captados pelos nossos sensores nervosos e transformados em mensagens eletroquímicas em nossas cadeias neurais que as transformam em experiências que, por sua vez, “treinam” nossa sensibilidade e esta repercute em nossas emoções, sentimentos, pensamentos, fantasias, se acomodando em nosso mundo interior. Nosso cérebro tem uma “plasticidade” capaz de se adaptar àquilo que vivenciamos segundo os códigos (padrões) pessoais, dando um toque individual a cada ação e reação que temos. Assim sendo, em nossas experiências encontramos situações vividas com prazer, com alegria, em outras com tristezas e sofrimentos ou ainda com indiferença . A vida em sua dinâmica nos põe em contato com as diferentes realidades, e, bem ou mal, vamos aprendendo a lidar com ela. Nem sempre temos sucesso em tudo o que nos propomos. Contudo, se valorizamos mais o lado negativo das coisas, nossa tendência será treinada (forçada) a fixar-se mais no lado negativo.

Todos os pequenos atos que fazemos exigem uma complexidade enorme do funcionamento das cadeias neurais. São trilhões de conexões usadas para interpretar os sinais captados e transmitidos pelos axônios e dendritos ligados aos núcleos dos neurônios. Uma simples ação de tomar um café, exige de nosso cérebro um controle exato dos movimentos. As cadeias neurais precisam interpretar o peso da xícara, seu calor, a inclinação que vamos dar a ela, o tocar com os lábios, o sorver uma pequena quantia do liquido, degustar o sabor entre outros protocolos. Isso tudo acontece de modo automático, inconsciente. Haverá uma diferença entre o primeiro café que tomamos e o centésimo! Quanto mais o cérebro é treinado para reagir de determinado modo, tanto mais perfeitamente executa a ação. Nossos hábitos se tornam uma espécie de piloto automático, que reage aos estímulos captados do exterior (e também em alguns casos, interior – fantasias, por exemplo). E assim formamos sempre novas cadeias neurais ou fortalecemos as existentes.

A neurociência tem demonstrado a complexidade do funcionamento neural, nas suas ações e reações, envolvendo as conexões eletroquímicas dos neurônios tornando nosso cérebro um complexo tão gigantesco que envolve cerca de cem bilhões de neurônios e suas trilhões de conexões. Pode-se comparar sua complexidade ao universo que cada dia as pesquisas revelam sempre maior do que o já conhecido. Embora se tenha um conhecimento razoável do funcionamento do cérebro em seus centros “especializados” – sabe-se, por exemplo, que o lobo frontal é a área ligada à concentração (pensamento); que o hipocampo processa a memorização; que o cerebelo dá o senso de equilíbrio e coordena as ações motoras; que o lobo parietal processa as informações relativas às noções de espaço e volume; que o lobo occipital é o centro da visão, diferencia objetos, cores, texturas, ainda assim sabemos pouco. Toda essa divisão de “atividades” trabalha de forma sincronizada e permite que nós façamos várias coisas ao mesmo tempo, por exemplo, que possamos pensar, andar, falar, olhar, ouvir, sentir, lembrar, manter o equilíbrio, o compasso dos passos, a noção de tempo, de espaço, etc. tudo ao mesmo tempo!

O sistema nervoso coordena as atividades do corpo, assegurando que as partes funcionem em harmonia. Para isso monitora o tempo todo, as alterações que ocorrem no corpo e no ambiente externo. Ainda que já tenhamos um conhecimento bastante grande, contudo, a própria neurociência que se ocupa de desvendar sempre mais seu funcionamento, se vê diante de uma complexidade tal que ainda permanece no bê-á-bá, diante de um grande mistério! Nos anos futuros certamente teremos melhores explicações das disponíveis hoje, mas quanto mais se descobre, mais portas se abrem que exigem explicações mais complexas.

Como os cientistas que pesquisam as galáxias, são frequentemente expostos a novas descobertas, que exigem revisões das hipóteses prevalentes até aquele momento, assim parece ser em relação ao funcionamento do cérebro.

É nesse contexto que nossa sensibilidade se encontra. A neurociência nos diz que as cadeias neurais estão sempre se refazendo, mantendo e fortalecendo algumas e “desconectando” outras. Há uma “lei” da “plasticidade” que permite uma adaptação constante às novas realidades. Sabe-se que a captação e repetição de mesmos estímulos, fortalecem as cadeias neurais responsáveis por guardas aquelas “lembranças” e elas serão mais susceptíveis de serem revividas. Sendo assim, podemos afirmar que nossa sensibilidade pode ser “educada”. Isto é, podemos preparar nosso cérebro para responder nossas demandas de forma mais controlada e harmônica. Isso exige de nossa parte, atenção e autocontrole, além de um aperfeiçoamento do conhecimento de si próprio, no modo como nos auto-observamos e na capacitação de mudar o que não funciona bem. É preciso cultivar uma autocrítica positiva, isto é, pôr-se na própria berlinda e pagar o preço pelas mudanças que desejamos fazer em nossos hábitos, para permitir que nosso cérebro trabalhe em nosso favor.  “Nossa sensibilidade revela quem somos”.

Diacono João Gualberto SDS

  Autor:

Pe. Deolino Pedro Baldissera, sds